
O psiquiatra Luis Carlos Prado e a psicóloga Adriana Zanonato esclarecem dúvidas relacionadas à sexualidade infantil...
O que pode despertar precocemente a sexualidade nas crianças?
Basicamente, o que pode estimular precocemente a sexualidade da
criança são atitudes sexuais inadequadas de algum dos pais ou de ambos,
ou de outros cuidadores – funcionários da casa ou mesmo a babá da
criança – de algum parente ou amigo da família ou ainda de algum
educador. Essas atitudes inadequadas podem ser estímulos precoces à
erotização da criança ou mesmo atitudes abusivas em que o corpo da
criança seja utilizado para o prazer de algum adulto ou adolescente.
Também expor a criança a manifestações explícitas do relacionamento
sexual do casal pode estimular sua precoce erotização. Expor a criança à
visualização de filmes pornográficos também pode causar o mesmo
impacto. Naturalmente que todos esses atos configuram, de alguma forma,
tipos de abuso ou violência sexual em relação à criança e causam
profundas distorções no seu desenvolvimento psico-sexual.
Nesse sentido, quais comportamentos os adultos devem evitar?
Como decorrência natural do anteriormente exposto, os adultos devem
manter uma atitude de respeito adequado a cada idade da criança, devendo
ser sempre cuidadosos e carinhosos com a mesma. Por outro lado, o casal
deverá sempre manter sua vida sexual na privacidade de seu quarto ou
fora de casa, quando não puderem ter um espaço separado para a criança.
Quando, por qualquer razão, a criança necessite dormir no quarto dos
pais, esses deverão ter o cuidado de não expô-la a sua vida sexual.
Desde quando as crianças devem dormir em quartos separados dos pais?
As crianças podem começar a dormir em seu próprio quarto desde muito
cedo, quando tenham uma saúde adequada e não necessitem cuidados
especiais que requeiram atenção diferenciada. Alguns pais podem querer
estar mais perto da criança nos primeiros meses, para sentirem-se
seguros quanto a sua saúde e seu crescimento adequado e isso não tem
problema. Mas é desejável que, passadas essas angústias iniciais, os
pais possam retomar seu espaço de intimidade, colocando a criança para
dormir em seu próprio quarto. Existem muitas formas de seguir tendo um
cuidado adequado durante a noite sem precisar deixar a criança no quarto
dos pais – o uso de babás eletrônicas é o mais simples deles. Ter seu
próprio espaço permite à criança crescer com mais autonomia e segurança.
É problema quando pais e filhos dormem no mesmo espaço? Até que idade isso pode ser tolerado sem causar traumas?
Não existe uma regra absoluta quanto a isso, pois as diferentes
culturas e variadas formas de educação familiar determinam uma
diversidade enorme de crenças e comportamentos relativos a essa questão.
Cada família deve estabelecer o seu consenso sobre isso, levando em
conta seus próprios valores familiares, suas crenças e sua cultura. O
que podemos dizer é que, em nossa cultura, nas famílias de classe média e
alta, as crianças têm a possibilidade de terem seu próprio quarto desde
muito cedo. Nesse contexto, permitir que a criança permaneça
indefinidamente no quarto dos pais pode estar revelando alguma
dificuldade desses pais separarem-se da criança ou estar encobrindo
algum conflito conjugal. Crianças que não conseguem dormir sem os pais
ao lado terão grande dificuldade em sua individualização e poderão ter
retardado o desenvolvimento de sua sociabilidade – por exemplo, não
poderem dormir na casa de amigos, quando chegar à idade em que isto
poderia ser desejável. O trauma que esse tipo de situação pode causar
fica mais por conta de presenciar o relacionamento sexual dos pais, em
geral a partir do terceiro ano de vida, ou mesmo de ser incluído nesse
relacionamento.
Não estamos, evidentemente, referindo-nos a momentos especiais onde a
criança possa estar sentindo-se insegura ou mesmo doente, ou àqueles
momentos familiares de finais de semana, onde pais e filhos podem querer
compartilhar o aconchego da cama do casal. Essas são atitudes adequadas
e saudáveis, diferente de manter uma criança permanentemente dormindo
na cama, ou mesmo no quarto do casal. Sua presença pode causar
desconforto para o sono do casal e sem dúvida limita a intimidade tão
necessária para a saúde física e mental dos pais.
E a questão do banho como funciona? Pais podem ficar pelados
na frente dos filhos? Isso varia se é mãe dando banho em filho ou filha
ou se é pai dando banho em filho ou filha?
Até os dois ou três anos de idade a criança não tem ainda grande
preocupação com a questão sexual e pode encarar com absoluta
naturalidade o corpo nu de seus pais. Essa questão começa a tornar-se
complexa quando a criança tem mais idade e passa a ter curiosidade
sexual e preocupação com seu corpo e sua sexualidade e com o corpo e a
sexualidade dos pais. Sua curiosidade sobre esses assuntos deve ser
atendida na medida em que vá surgindo, suas perguntas devem ser
respondidas com naturalidade e na medida do que está sendo perguntado.
Sabe-se que nessa etapa – chamada edípica por alguns autores
psicanalíticos – a criança tem ativado seu interesse pela sexualidade e
revela com freqüência uma especial atenção para com o pai do sexo oposto
ao seu. É a época de quererem “namorar” ou “casar” com o pai ou a mãe.
Essas são manifestações naturais da criança edípica e devem ser
encaradas com naturalidade, mas não estimuladas. A criança precisa
compreender e aceitar que o pai é o namorado da mãe e vice-versa – ela
terá, no futuro, a possibilidade de ter seus próprios relacionamentos
amorosos. Dessa etapa em diante, pensamos não ser muito adequado que os
pais exibam com freqüência sua nudez aos filhos, evitando-se, assim,
exacerba-se sua curiosidade ou excitar-se sua sexualidade.
Na escolinha, desde quando os banheiros femininos e
masculinos devem ser distintos? Essa separação é uma questão que deve
ser levada em conta na hora de escolher a melhor instituição?
O mesmo princípio vale para as escolas: a partir dos três anos,
aproximadamente, essa separação será útil e necessária. O momento dessa
transição vai variar de criança para criança, dependendo muito de sua
maturação psico-neurológica. As escolas para crianças pequenas deverão
ter os dois tipos de possibilidades – algumas crianças ainda
necessitarão de adultos para acompanhá-las, outras não mais. Desde muito
cedo meninos e meninas têm formas diferentes de utilizar um banheiro e
essas diferenças devem ser respeitadas.
A partir de quando a criança se dá conta de que é menino ou menina?
Desde muito cedo, final do primeiro ano de vida, já se manifestam as
diferenças biológicas de meninos e meninas – os primeiros mais ativos e
agitados, as meninas mais tranquilas, carinhosas e maternais. Claro,
contrariando a regra, muitos meninos podem ser mais calmos e algumas
meninas mais agitadas e até agressivas. Gradualmente, com o passar dos
anos, vão se manifestando com clareza as diferenças de gênero,
aprimoradas pela intervenção dos pais, que reforçam os padrões culturais
de comportamentos masculinos dos meninos e femininos das meninas. Aos
três ou quatro anos, em geral, já podemos ver com clareza as diferentes
posturas de ambos os sexos.
Quando o menino gosta do universo feminino e a menina se
sente atraída pelo universo masculino, procurando brinquedos ou roupas
do sexo oposto, significa alguma coisa em relação a futura opção sexual?
Não necessariamente. Pode acontecer de algum menino ter interesse por
brinquedos femininos ou alguma menina por brinquedos masculinos, e isso
ser apenas uma fase, um estímulo ambiental ou uma peculiaridade daquela
criança. Mas algumas crianças, desde muito cedo, vão apresentar
características diferentes – meninos que têm uma franca preferência por
brinquedos e vestimentas femininas ou pela cor rosa, e meninas
claramente inclinadas por atividades masculinas, o que poderá indicar
uma identificação de gênero com o sexo oposto e/ou uma futura inclinação
homossexual. Nesses casos, seria interessante que os pais buscassem um
acompanhamento psicológico para identificar com clareza a situação e, se
for o caso, prepararem-se para melhor lidar com essa diferente forma de
ser de seu filho.
De que maneira os pais podem criar filhos sexualmente saudáveis e felizes, sem traumas e sem dúvidas?
Em primeiro lugar, não existe nenhuma fórmula que assegure que alguém
possa crescer sem nenhum tipo de trauma ou de dúvida. Por mais amorosos
e cuidadosos que sejam os pais, sempre a vida poderá surpreender uma
criança ou adolescente, trazendo-lhe algum sofrimento ou mesmo algum
trauma. O que podemos, sim, ensinar aos filhos, é a lidarem com isso,
cada vez que a vida lhes for dolorosa ou complicada. Podemos dar
instrumentos aos filhos para que enfrentem com coragem e determinação as
adversidades que a vida lhes proporcione. E também devemos prepará-los,
o que nem sempre é fácil, para usufruírem das muitas benesses que uma
boa vida pode oferecer. Saber curtir a vida com prazer e alegria e
enfrentar todo sofrimento com coragem e capacidade de aprender com ele é
o que podemos de melhor ensinar a nossos filhos. Uma convivência
conjugal respeitosa e uma vida familiar harmônica podem contribuir muito
para isso.
fonte: Blog Mães à Obra - por Paula Tweedie
http://www.maesaobra.com.br/2011/02/07/o-psiquiatra-luis-carlos-prado-e-a-psicologa-adriana-zanonato-esclarecem-duvidas-relacionadas-a-sexualidade/
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