quarta-feira, 20 de junho de 2012

De que maneira os pais podem criar filhos sexualmente saudáveis e felizes, sem traumas e sem dúvidas?

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O psiquiatra Luis Carlos Prado e a psicóloga Adriana Zanonato esclarecem dúvidas relacionadas à sexualidade infantil...


O que pode despertar precocemente a sexualidade nas crianças?
Basicamente, o que pode estimular precocemente a sexualidade da criança são atitudes sexuais inadequadas de algum dos pais ou de ambos, ou de outros cuidadores – funcionários da casa ou mesmo a babá da criança – de algum parente ou amigo da família ou ainda de algum educador. Essas atitudes inadequadas podem ser estímulos precoces à erotização da criança ou mesmo atitudes abusivas em que o corpo da criança seja utilizado para o prazer de algum adulto ou adolescente. Também expor a criança a manifestações explícitas do relacionamento sexual do casal pode estimular sua precoce erotização. Expor a criança à visualização de filmes pornográficos também pode causar o mesmo impacto. Naturalmente que todos esses atos configuram, de alguma forma, tipos de abuso ou violência sexual em relação à criança e causam profundas distorções no seu desenvolvimento psico-sexual.

Nesse sentido, quais comportamentos os adultos devem evitar?
Como decorrência natural do anteriormente exposto, os adultos devem manter uma atitude de respeito adequado a cada idade da criança, devendo ser sempre cuidadosos e carinhosos com a mesma. Por outro lado, o casal deverá sempre manter sua vida sexual na privacidade de seu quarto ou fora de casa, quando não puderem ter um espaço separado para a criança. Quando, por qualquer razão, a criança necessite dormir no quarto dos pais, esses deverão ter o cuidado de não expô-la a sua vida sexual.

Desde quando as crianças devem dormir em quartos separados dos pais?
As crianças podem começar a dormir em seu próprio quarto desde muito cedo, quando tenham uma saúde adequada e não necessitem cuidados especiais que requeiram atenção diferenciada. Alguns pais podem querer estar mais perto da criança nos primeiros meses, para sentirem-se seguros quanto a sua saúde e seu crescimento adequado e isso não tem problema. Mas é desejável que, passadas essas angústias iniciais, os pais possam retomar seu espaço de intimidade, colocando a criança para dormir em seu próprio quarto. Existem muitas formas de seguir tendo um cuidado adequado durante a noite sem precisar deixar a criança no quarto dos pais – o uso de babás eletrônicas é o mais simples deles. Ter seu próprio espaço permite à criança crescer com mais autonomia e segurança.

É problema quando pais e filhos dormem no mesmo espaço? Até que idade isso pode ser tolerado sem causar traumas?
Não existe uma regra absoluta quanto a isso, pois as diferentes culturas e variadas formas de educação familiar determinam uma diversidade enorme de crenças e comportamentos relativos a essa questão. Cada família deve estabelecer o seu consenso sobre isso, levando em conta seus próprios valores familiares, suas crenças e sua cultura. O que podemos dizer é que, em nossa cultura, nas famílias de classe média e alta, as crianças têm a possibilidade de terem seu próprio quarto desde muito cedo. Nesse contexto, permitir que a criança permaneça indefinidamente no quarto dos pais pode estar revelando alguma dificuldade desses pais separarem-se da criança ou estar encobrindo algum conflito conjugal. Crianças que não conseguem dormir sem os pais ao lado terão grande dificuldade em sua individualização e poderão ter retardado o desenvolvimento de sua sociabilidade – por exemplo, não poderem dormir na casa de amigos, quando chegar à idade em que isto poderia ser desejável. O trauma que esse tipo de situação pode causar fica mais por conta de presenciar o relacionamento sexual dos pais, em geral a partir do terceiro ano de vida, ou mesmo de ser incluído nesse relacionamento.
Não estamos, evidentemente, referindo-nos a momentos especiais onde a criança possa estar sentindo-se insegura ou mesmo doente, ou àqueles momentos familiares de finais de semana, onde pais e filhos podem querer compartilhar o aconchego da cama do casal. Essas são atitudes adequadas e saudáveis, diferente de manter uma criança permanentemente dormindo na cama, ou mesmo no quarto do casal. Sua presença pode causar desconforto para o sono do casal e sem dúvida limita a intimidade tão necessária para a saúde física e mental dos pais.

E a questão do banho como funciona? Pais podem ficar pelados na frente dos filhos? Isso varia se é mãe dando banho em filho ou filha ou se é pai dando banho em filho ou filha?
Até os dois ou três anos de idade a criança não tem ainda grande preocupação com a questão sexual e pode encarar com absoluta naturalidade o corpo nu de seus pais. Essa questão começa a tornar-se complexa quando a criança tem mais idade e passa a ter curiosidade sexual e preocupação com seu corpo e sua sexualidade e com o corpo e a sexualidade dos pais. Sua curiosidade sobre esses assuntos deve ser atendida na medida em que vá surgindo, suas perguntas devem ser respondidas com naturalidade e na medida do que está sendo perguntado. Sabe-se que nessa etapa – chamada edípica por alguns autores psicanalíticos – a criança tem ativado seu interesse pela sexualidade e revela com freqüência uma especial atenção para com o pai do sexo oposto ao seu. É a época de quererem “namorar” ou “casar” com o pai ou a mãe. Essas são manifestações naturais da criança edípica e devem ser encaradas com naturalidade, mas não estimuladas.  A criança precisa compreender e aceitar que o pai é o namorado da mãe e vice-versa – ela terá, no futuro, a possibilidade de ter seus próprios relacionamentos amorosos. Dessa etapa em diante, pensamos não ser muito adequado que os pais exibam com freqüência sua nudez aos filhos, evitando-se, assim, exacerba-se sua curiosidade ou excitar-se sua sexualidade.

Na escolinha, desde quando os banheiros femininos e masculinos devem ser distintos? Essa separação é uma questão que deve ser levada em conta na hora de escolher a melhor instituição?
O mesmo princípio vale para as escolas: a partir dos três anos, aproximadamente, essa separação será útil e necessária. O momento dessa transição vai variar de criança para criança, dependendo muito de sua maturação psico-neurológica. As escolas para crianças pequenas deverão ter os dois tipos de possibilidades – algumas crianças ainda necessitarão de adultos para acompanhá-las, outras não mais. Desde muito cedo meninos e meninas têm formas diferentes de utilizar um banheiro e essas diferenças devem ser respeitadas.

A partir de quando a criança se dá conta de que é menino ou menina?
Desde muito cedo, final do primeiro ano de vida, já se manifestam as diferenças biológicas de meninos e meninas – os primeiros mais ativos e agitados, as meninas mais tranquilas, carinhosas e maternais. Claro, contrariando a regra, muitos meninos podem ser mais calmos e algumas meninas mais agitadas e até agressivas. Gradualmente, com o passar dos anos, vão se manifestando com clareza as diferenças de gênero, aprimoradas pela intervenção dos pais, que reforçam os padrões culturais de comportamentos masculinos dos meninos e femininos das meninas. Aos três ou quatro anos, em geral, já podemos ver com clareza as diferentes posturas de ambos os sexos.

Quando o menino gosta do universo feminino e a menina se sente atraída pelo universo masculino, procurando brinquedos ou roupas do sexo oposto, significa alguma coisa em relação a futura opção sexual?
Não necessariamente. Pode acontecer de algum menino ter interesse por brinquedos femininos ou alguma menina por brinquedos masculinos, e isso ser apenas uma fase, um estímulo ambiental ou uma peculiaridade daquela criança. Mas algumas crianças, desde muito cedo, vão apresentar características diferentes – meninos que têm uma franca preferência por brinquedos e vestimentas femininas ou pela cor rosa, e meninas claramente inclinadas por atividades masculinas, o que poderá indicar uma identificação de gênero com o sexo oposto e/ou uma futura inclinação homossexual. Nesses casos, seria interessante que os pais buscassem um acompanhamento psicológico para identificar com clareza a situação e, se for o caso, prepararem-se para melhor lidar com essa diferente forma de ser de seu filho.

De que maneira os pais podem criar filhos sexualmente saudáveis e felizes, sem traumas e sem dúvidas?
Em primeiro lugar, não existe nenhuma fórmula que assegure que alguém possa crescer sem nenhum tipo de trauma ou de dúvida. Por mais amorosos e cuidadosos que sejam os pais, sempre a vida poderá surpreender uma criança ou adolescente, trazendo-lhe algum sofrimento ou mesmo algum trauma. O que podemos, sim, ensinar aos filhos, é a lidarem com isso, cada vez que a vida lhes for dolorosa ou complicada. Podemos dar instrumentos aos filhos para que enfrentem com coragem e determinação as adversidades que a vida lhes proporcione. E também devemos prepará-los, o que nem sempre é fácil, para usufruírem das muitas benesses que uma boa vida pode oferecer. Saber curtir a vida com prazer e alegria e enfrentar todo sofrimento com coragem e capacidade de aprender com ele é o que podemos de melhor ensinar a nossos filhos. Uma convivência conjugal respeitosa e uma vida familiar harmônica podem contribuir muito para isso.







fonte: Blog Mães à Obra - por Paula Tweedie
http://www.maesaobra.com.br/2011/02/07/o-psiquiatra-luis-carlos-prado-e-a-psicologa-adriana-zanonato-esclarecem-duvidas-relacionadas-a-sexualidade/



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